Tecnologia e talentos nacionais são armas da seleção brasileira de goalball na busca pelo ouro

Publicado em Sexta, 09 Setembro 2016 16:07
Danilo Borges/Brasil2016.gov.brDanilo Borges/Brasil2016.gov.br
Duas traves. O objetivo é fazer gol. Variações táticas. Estudo minucioso dos adversários. O Brasil é uma referência neste esporte. Para quem não conhece, pode parecer que o goalball se restringe à troca de arremessos entre os três jogadores de cada time. No entanto, cada vez que a bola azul vai de um lado para o outro, não é apenas o guizo dentro dela que marca a trajetória para os atletas, deficientes visuais. A cada jogada, há uma pessoa que está captando todos os movimentos em quadra.
 
O analista de desempenho da seleção brasileira masculina, Altemir Trapp, coleta e processa as informações para que a comissão técnica melhore cada vez mais o rendimento da equipe, campeã mundial em 2014 e que busca o inédito ouro paralímpico em casa. "Meu trabalho durante os jogos é realizar o levantamento de informações quantitativas da nossa equipe, dentro dos critérios de rendimento, que são bolas no alvo, bolas para fora e bolas no centro, para identificar como está o poderio ofensivo e o comportamento defensivo do time", explica Trapp, sentado na arquibancada da Arena do Futuro, enquanto trabalha no confronto entre Finlândia e Lituânia pela primeira rodada do Grupo B. Além dos jogos da seleção brasileira, ele acompanha todos os duelos dos outros times.
 
"Eles são nossos possíveis adversários em uma fase decisiva. Então vale a pena fazer esse levantamento de falhas, de pontos a serem explorados e o que devemos ter cuidado quando nos confrontarmos com eles", disse o analista, projetando um duelo em jogos eliminatórios, já que o Brasil está no Grupo A e pode cruzar com os europeus nas próximas fases.
 
Os finlandeses foram os adversários dos brasileiros nas decisões das Paralimpíadas de Londres, quando os europeus venceram, e do último Mundial, quando a seleção verde e amarelo deu o troco. Mas, quem está em ascensão são os lituanos, que ganharam por 13 x 6, com destaque para Genrik Pavliukianec, considerado um dos melhores jogadores do mundo ao lado do brasileiro Leomon Moreno. Eles, inclusive, serão companheiros de time, o Sporting de Portugal.
 
Com uma câmera fixa no guarda-corpo e um tablet nas mãos, Trapp vai marcando cada arremesso dos europeus. A ideia é captar a direção dos tiros, o local em que a bola atinge a área adversária. Para isso, o gol, que é da largura da linha de fundo, é dividido, imaginariamente, em seis partes. São dois programas, em plataforma iOS, utilizados pelo brasileiro. Um deles, criado pelo analista, que o batizou com o nome da esposa: Ana Carolina Duarte, atleta da seleção feminina de goalball.
 
"Nós utilizamos dois softwares. Um para identificar a origem e o alvo do arremesso, que é uma adaptação de um programa usado no vôlei (Vôlei Data) e criamos um programa para fazer análise técnica dos nossos atletas. Utilizamos essas duas ferramentas e as imagens dos jogos, onde posteriormente vamos apresentar como foi a nossa atuação e o que precisamos corrigir", detalha Trapp, mestrando em engenharia de sistemas.
 
Ferramentas desenvolvidas com a criatividade nacional e que fizeram a equipe subir de produção. No entanto, a análise de desempenho não é uma arma exclusiva do Brasil. Na Arena do Futuro há uma área reservada na arquibancada para estes profissionais. "Hoje as grandes equipes trabalham com a análise de desempenho nas modalidades coletivas. E isso faltava para nós. A partir do momento que trouxemos o Altermir, passamos a ter informações de todas as equipes e passamos isso para os atletas. Aos poucos fomos fazendo alguns ajustes, porque nos treinos a gente entendia que tinha que tirar um item, acrescentar outro e chegamos ao modelo atual", comenta o técnico Alessandro Tosim.
 
Gabriel Fialho/Brasil2016.gov.brGabriel Fialho/Brasil2016.gov.br
 
Tempo real
As partidas de goalball são disputadas em dois tempos de 12 minutos com três de intervalo, podendo haver pedidos para pausas técnicas. São nestas paradas que o treinador, já com as informações fornecidas em tempo real por Trapp, tem condições de orientar o time e, se necessário, mudar de estratégia.
 
"Nós passamos de maneira objetiva e pontual esses dados. Durante os jogos, o assistente técnico Rafael Loschi fica posicionado no banco de reservas. Utilizando uma plataforma de transferência de arquivos, passamos todas as informações e ele encaminha para o Alessandro, que nos tempos técnicos repassa aos atletas. Nos treinamentos, também fazemos esta análise e apresentamos para os jogadores o desempenho individual e coletivo", conta Trapp.
 
Na estreia contra a Suécia, a seleção brasileira chegou a abrir 7 x 2 no placar, mas teve uma queda de rendimento, cometeu algumas penalidades e viu os europeus anotarem três gols seguidos. Sabendo a origem e o alvo dos arremessos, o treinador identificou os locais a serem explorados. "Alguns pontos são importantes para nós. O primeiro é a quantidade de bolas no alvo, a partir da numeração que a gente coloca na quadra. Teve um momento que tivemos uma queda muito grande neste quesito e ficamos com 50% de bola no alvo", exemplificou Tosim, que após os tentos suecos colocou Leomon em quadra novamente. O Brasil fez dois gols e venceu por 9 x 6.
 
Outra ação importante na dinâmica da partida é a defesa com domínio, ou seja, sem rebater a bola. Desta forma, a equipe, que tem dez segundo para realizar o arremesso sem sofrer um pênalti, tem mais tempo para trabalhar a bola. "A gente também analisa este aspecto na equipe adversária, para saber qual jogada irão fazer quando realizarem uma defesa com domínio", completa o técnico.
 
 
Preleção
Na véspera dos confrontos, a comissão técnica faz uma reunião com o grupo para analisar os adversários e motivar o time. São transmitidos vídeos aos atletas, pelo método de audiodescrição, com o resumo dos pontos fortes e fracos dos oponentes. A análise envolve a participação dos próprios jogadores, que mentalizam e "constroem" o jogo com as estratégias a serem aplicadas em quadra.
 
"O treinador observou quais jogadores seriam titulares na Suécia. E aconteceu como ele falou, que o ala direito ia bater sempre na posição 4 e 5, entre o nossos pivô e o ala esquerdo, sempre com uma bola pesada. Também disse que o pivô deles tem uma variação de bola e o ala esquerdo sempre bate no contra pé. No segundo tempo eles fizeram uma substituição e a orientação foi manter a defesa e buscar o cara que tinha entrado frio. Obedecemos taticamente as orientações e chegamos à vitória", analisa José Roberto Oliveira, pivô da seleção. Subsídios, que aliados a união do grupo e habilidade dos atletas colocam o Brasil como um dos favoritos ao topo do pódio.
 
Gabriel Fialho - brasil2016.gov.br
Ascom - Ministério do Esporte