Ministério do Esporte Confira entrevista do secretário executivo Luis Fernandes ao jornal português I
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Confira entrevista do secretário executivo Luis Fernandes ao jornal português I

Luís Fernandes. "Vi o golo mil do Pelé. E também o do Romário. Já agora, os 6-3 do Benfica"

Por Rui Miguel Tovar, publicado em 5 Jan 2013, IOnline

Apanhado de férias em Portugal, o xerife do Mundial-2014 e Jogos Olímpicos-2016 fala-nos do futebol do futuro. E das alegrias do passado

Ano, 1969. O homem chega à Lua (Neil Armstrong e Buzz Aldrin) mas o que é isso comparado com o milésimo golo de Pelé? Na noite de 19 de Novembro, o clássico Santos-Vasco enche o Maracanã. Todos querem aplaudir Pelé e assistir ao momento grandioso. Aos 77 minutos, Pelé entra na área e é rasteirado por Fernando. Penálti. Pelé aguarda o posicionamento dos fotógrafos atrás da baliza e atira para o canto esquerdo do uruguaio Andrada. Enquanto o guarda-redes dá socos na relva, Pelé corre para dentro da baliza e inicia um discurso em prol das crianças abandonadas do Brasil.

Ano, 2007. O homem já não vai à Lua desde 1972, mas o que é isso comparado com o milésimo golo de Romário? O São Januário está lotado para ver a quarta tentativa de Romário de chegar ao número lendário. O adversário é o Sport Recife. Já está 2-0 quando a bola bate na mão de um defesa e o árbitro assinala penálti. Cabe a Romário perpetuar o golo mil com o guarda-redes Magrão. É golo, e o jogo está interrompido por 16 minutos para a volta olímpica do herói.

Ano, 1994. O Brasil vai à Lua (conquista do Mundial-94) e Pelé abraça Romário no Rose Bowl em Los Angeles mas o que é isso comparado com os 6-3? Na tarde de 14 de Maio, o José Alvalade enche-se para ver o Sporting (2.o) vs. Benfica (1.o). Um ponto (e um golo) separa os rivais. Cadete desequilibra, JVP empata, Figo imita Cadete, JVP empata e dá a volta. Na segunda parte, Isaías imita Cadete e Figo - para o Benfica! Hélder amplia, Balakov reduz de penálti. Acaba 6-3. Ou 3-6 para os mais exactos.

Como é que esses três eventos estão interligados? Fazem parte das memórias "in loco" de Luís Fernandes. Quem? Luís Fernandes, o Secretário-Executivo do Ministério do Desporto do Brasil e o chefe da pasta do Mundial-2014 e Jogos Olímpicos-2016. Entre a eleição (25 de Janeiro do ano passado) e todo o trabalho pela frente até ao Mundial-2014, Luís Fernandes curte uns dias de férias em Portugal, de onde é natural o seu pai. Ao telefone, o dirigente brasileiro fala durante 25 minutos e viaja no tempo, desde 1969 (golo de Pelé no Maracanã) até 2014 (golo de ? na final da Copa, no Maracanã). A "culpa" é dele, que nos devolve as cinco chamadas não atendidas com uma cortesia ímpar.

"Luís Miguel Tovar, boa tarde."

Luís, não. Sou Rui. Luís aqui só há um, é o senhor e mais nenhum.
Ahahah, julgava que era Luís. Deram-me essa indicação, peço desculpa.

Sem problema. Obrigado por ter ligado.
É, sabe como é? Férias são férias e deixei o telemóvel no hotel. Mas agora estou de volta. Quer falar agora?

Vamos a isso. Já sei que está ligado aos dois maiores eventos desportivos dos próximos anos: Mundial-2014 e JO-2016. Sempre foi ligado ao desporto?
Sempre. Adepto e praticante. Nunca fui um profissional, mas sim um amador, por brincadeira. Mas sempre um fanático por futebol, o desporto por excelência no Brasil e aqui, em Portugal.

Era de ir ao estádio ou ouvir relatos...
Ir ao estádio, sempre.

Qual?
O principal do Rio é o Maracanã. Mas sou adepto do Vasco da Gama.

Ah, dos portugueses e do bacalhau...
Isso, isso [risos]. Sempre fui de ir ao São Januário e ao Maracanã quando se trata dos clássicos com Botafogo, Flamengo e Fluminense.

O São Januário tem uma característica única, não é?
Pois é, os bancos de suplentes atrás das balizas. Os treinadores adversários reclamam muito disso, porque é uma posição esquisita.

O Luís lembra-se de algum jogo memorável?
Uiii, com certeza [pensa uns dois segundos], inúmeros [mais dois segundos], assim de repente, dois.

Diga.
O primeiro é o Santos-Vasco do milésimo golo do Pelé. Ganhou o Vasco por 2-1 e o segundo golo do Santos foi justamente o do Pelé, de penálti. O curioso é que os adeptos do Vasco não sabiam muito bem como comemorar, porque era o golo da derrota mas também o milésimo do Pelé. Mas o Pelé teve presença de espírito e vestiu a camisola do Vasco com o número mil nas costas para dar uma volta olímpica ao Maracanã. Aí sim, os adeptos do Vasco aplaudiram. Eu incluído [risos].

Quantos anos tinha?
Onze.

E foi ao estádio com quem?
O meu irmão mais velho.

E o segundo jogo?
Mais recentemente, no São Januário, o do milésimo golo do Romário.

Sério?
É verdade, devo ser das poucas pessoas do mundo a ter visto o golo mil do Pelé e do Romário.

Antes do Mundial, vem aí a Taça das Confederações. Como é o planeamento de uma prova dessas, a começar pelos estádios?
São seis estádios. Dois já foram inaugurados, o Castelão em Fortaleza e o Mineirão em Belo Horizonte. Os outros quatro (Maracanã, Salvador, Recife e Brasília) serão inaugurados até Abril.

E não houve problemas,. como greve de trabalhadores...
Greve de trabalhadores nem tem havido muitas. Na preparação para o Mundial-2010, na África do Sul, até houve mais do que no Brasil. Os problemas fazem parte do passado, com a FIFA a reclamar sobre o atraso das obras e até houve uma declaração desagradável do secretário da FIFA [Jérôme Valcke] sobre o Brasil.

Então?
Ele disse qualquer coisa como o Brasil devia levar um chuto no traseiro.

Qual foi a reacção do Brasil?
Criou um mal-estar mas ele pediu desculpas e superámos essa crise. Aliás, em Março, tomámos uma medida que espantou a crise e serenou os ânimos: o governo brasileiro passou a integrar o COL (Comité Organizador Local). Na sequência dessa incorporação, a comunicação flui muito melhor e a FIFA elogia a nossa virada.

O Luís dá-se com o Valcke?
De seis em seis semanas, pelo menos. Quando fazemos as nossas vistorias a todos os estádios da Copa.

Que são...
Doze estádios. Aos seis da Taça das Confederações, juntam-se mais seis.

E o Valcke tem-se portado bem?
Sim [risos], sim. A crise acabou, os estádios estão a ser inaugurados a pouco e pouco e isso gera boa disposição e menos desconfiança.

Por falar nisso, não é o Romário, agora deputado, um dos mais desconfiados?
Conheço o Romário há muito tempo, até porque fui dirigente do Vasco, e gosto muito dele. Como jogador e pessoa. É muito autêntico, sem papas na língua. Em relação ao Mundial, diria que muitas das suas declarações foram sem o total conhecimento de causa, o que às vezes provoca um esclarecimento seguido de um pedido de desculpas. Ele é assim por natureza. Fala muito, é extremamente frontal. Cabe aqui realçar, isso sim, o excelente trabalho dele como deputado. Tem sido uma revelação, não só no desporto mas também noutros assuntos. Como ele tem uma filha com síndrome de Down, organiza iniciativas muitas interessantes e positivas sobre a doença.

Nas suas viagens pelo Brasil, já vê o entusiasmo pelo Mundial?
Muito, muito. O Brasil é um país enorme, quase do tamanho da Europa Ocidental, e o apoio popular e institucional tem sido exemplar. Muito mais do que se lesse apenas os jornais, porque a comunicação social tem uma vertente mais crítica sobre os preparativos. No início, eram os estádios. Como os estádios estão a ser inaugurados, agora viraram-se para as estradas e os aeroportos que podem não ficar prontos a tempo, mas o clima da opinião pública é de expectativa e de entusiasmo.

E pela Taça das Confederações?
Também, repare que o desafio não é só o Mundial. É tudo à sua volta. O desafio do Governo é estruturar políticas públicas com um enraizamento que garanta o desporto como direito à cidadania e também antecipar garantia de melhores condições de saúde e vida. Dou-lhe um exemplo.

Diga.
Os estádios. Todos têm um certificado ambiental internacional, como utilização de fontes renováveis, energia solar, reaproveitamento das chuvas para irrigação dos relvados, várias opções tecnológicas. Se as infra-estruturas são boas, o que a rodeia também. A missão do Brasil é surpreender, encantar e emocionar o mundo. Em 2013 na Taça das Confederações, em 2014 no Mundial, em 2016 nos Jogos Olímpicos e por aí fora, sem parar, em crescimento.

E o preço dos bilhetes?
Na Taça das Confederações, o mais barato é 50 reais [18 euros], o mesmo preço praticado no campeonato brasileiro. No Mundial-2014, é um pouco mais elevado mas nada excessivo para a realidade brasileira. E conseguimos junto da FIFA disponibilizar meia entrada para os idosos, por exemplo - lá no Brasil, a expressão é muito generosa, porque é a partir dos 60 anos. Também há meia entrada para estudantes e para os beneficiário da Bolsa Família, um programa social.

E a adesão popular já é visível?
Numa primeira fase de vendas de bilhetes para a Taça das Confederações, os números superaram todas as expectativas. Bateram-se todos os recordes.

Qual foi a sua maior dificuldade?
A complexidade de organização de um evento único num país do tamanho do Brasil. Falamos todos a mesma língua, mas há várias realidades, como Manaus no coração da Amazónia e Rio Grande do Sul que na altura do Mundial tem temperaturas frias, parecido com Portugal agora. Além disso, a própria estrutura política é complexa com Governo de Estado e prefeituras, muito diferentes entre si de cidade para cidade. Articular isso num plano de desenvolvimento é...

Consegue dormir?
Só digo que gostaria de dormir mais [risos]. Daí estas férias em Portugal.

Não sabe quando terá um novo período de férias?
Eheheh, isso, não sei mesmo.

Só mais uma pergunta. Já foi ao futebol em Portugal?
Sim, tenho vindo cá muitas vezes, desde criança. O meu pai é português, do Benfica. Já fui à Luz, Alvalade, Antas, Dragão, Jamor.

Então e... um jogo memorável?
Tem um em que dizem que dei sorte, em Alvalade, o Benfica ganhou 6-3.

Fala-me do Pelé e do Romário e não diz nada dos 6-3?
Ahah, os 6-3, pois é. Estava numa bancada com muitos sportinguistas mas a meio da segunda parte todos eles já se tinham ido embora. Fiquei eu mais cinco ou seis benfiquistas [e ri-se].

Com isto, despedimo-nos. O Luís (Fernandes) e o outro Luís (Miguel Tovar). Até Junho, na Taça das Confederações.

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