Ministério do Esporte Confira entrevista do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, à revista Veja
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Confira entrevista do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, à revista Veja

Nossa seleção está vulgarizada

Entrevista com Aldo Rebelo

O ministro do Esporte critica o excesso de jogos do escrete brasileiro, não teme problemas na Copa e promete atrelar patrocínios oficiais a melhor desempenho de atletas e cartolas

Otávio Cabral

Aldo Rebelo é um político acostumado a missões delicadas. Entrou no ministério de Lula para conter a crise causada pelo primeiro escândalo envolvendo José Dirceu, o caso Waldomiro Diniz. Presidiu a Câmara dos Deputados depois da renúncia de Severino Cavalcanti. Comunista histórico, foi escalado para relatar o Código Florestal, quando deu um exemplo de bom-senso que desagradou aos companheiros de esquerda. Há dez meses, assumiu o Ministério do Esporte, que coordenará a organização da Copa do Mundo e da Olimpíada. Apesar do potencial de problemas dos eventos, Aldo avalia que o atual planejamento evitará grandes falhas. Aos 56 anos, ele só perde um pouco o otimismo ao falar de dirigentes, da seleção de futebol e do desempenho do Brasil em Londres.

A seleção brasileira fez dois jogos no Brasil que não encheram os estádios e não agradaram à torcida. Há um processo de elitização do futebol? A seleção não atrai mais o torcedor?
Há um evidente processo de elitização, o que pode ser prejudicial ao futebol, que é uma instituição que nasceu no Brasil à margem do mercado e do estado. É uma instituição essencialmente popular, que deu aos pobres seus grandes ídolos, como Friedenreich, Fausto "Maravilha Negra", Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Pelé, Neymar... Quando o mercado se apropria dessa instituição, o torcedor deixa de se comportar como um apaixonado pelo esporte e passa a ser um consumidor do produto. Isso é legítimo, mas traz um risco ao próprio negócio. Se o produto não for de boa qualidade ou for banalizado, o público se desencantará. A seleção brasileira está exposta a jogos que têm apenas interesse comercial, com adversários fracos como África do Sul e China. A convocação da seleção era um evento que parava o país. Hoje, alcançou um grau de vulgaridade que não impressiona mais a ninguém. Os dirigentes precisam levar isso em conta em benefício do próprio futebol. A seleção brasileira está vulgarizada e banalizada. Isso é um problema a dois anos da Copa do Mundo no Brasil.

A seleção deixou de interessar ao público?
Sem dúvida. Hoje, o torcedor dá muito mais valor a seu clube do que à seleção. E, muitas vezes. vai ao estádio para vaiar na seleção o atleta do adversário, como aconteceu com o Neymar no amistoso contra a África do Sul. O público está praticamente desprezando a seleção. A culpa não é do torcedor, mas do espetáculo que ele recebe.

Há um risco de esse desprezo à seleção chegar ao ápice se o Brasil tiver um mau desempenho em 2014?
A Copa costuma reconstituir o espírito do torcedor de seleção. É um momento em que, apesar das decepções, a torcida trata bem os jogadores. Ainda mais em casa.

O torcedor comum conseguirá ver o Brasil nos estádios ou o preço dos ingressos será um impeditivo?
Pela forma como é organizada, a Copa já é um evento restrito. A maioria da população não vai passar nem perto dos estádios, pois o Brasil terá de garantir ingressos para torcedores do mundo inteiro. Não dá para fazer uma Copa do Mundo com outros 31 países e reservar entradas apenas para os brasileiros. A Copa é um torneio ao qual o torcedor comum praticamente não tem acesso. Conseguir um ingresso é quase como ganhar na loteria.

Um fracasso dentro de campo é um risco concreto. E, fora dos campos, o que mais preocupa o governo hoje?
A Copa e a Olimpíada não têm muito mistério nem segredo. Exigem apenas muito trabalho. O governo está controlando tudo de perto, já visitei pelo menos três vezes cada cidade-sede. As obras estão dentro do prazo, mas não se pode descuidar. Por isso, o Brasil fez um acordo com as duas cidades que organizaram os Jogos Olímpicos anteriores - Pequim e Londres - para não deixar que erros sejam repetidos, principalmente em transporte, telecomunicações e segurança.

Há o risco de algum estádio não ficar pronto a tempo para a Copa das Confederações?
O limite é novembro, quando os estádios precisam estar preparados para o sorteio das chaves da Copa das Confederações, que começa em junho de 2013. Logo depois do sorteio, inicia-se a venda de ingressos e de espaços publicitários. O governo espera que todos estejam prontos, mas os que não estiverem ficarão de fora, não há segunda chance. O mais atrasado hoje é o de Recife, é o que mais preocupa.

A violência da torcida é uma preocupação?
A violência é um problema que foi muito reduzido dentro dos estádios e que hoje ocorre mais longe dos campos. Para que se reduza ainda mais o risco, os ministérios do Esporte e da Justiça farão um acordo para colocar câmeras nos estádios, banir os torcedores violentos e acompanhar permanentemente as torcidas que usam a internet para marcar brigas. O combate a esses grupos não pode se restringir aos estádios. E preciso acabar com a impunidade para garantir ao torcedor comum o direito de acompanhar o futebol em paz.

Como o senhor qualifica o desempenho do Brasil na Olimpíada de Londres? Foi pior do que a previsão do governo?
Era previsível que o Brasil tivesse um desempenho melhor do que a média das últimas Olimpíadas porque os investimentos foram ampliados. O Comitê Olímpico Brasileiro previa quinze medalhas e o governo achava que dava para chegar a vinte, mas ficamos em dezessete. Melhoramos em esportes individuais, como judô e boxe, e decepcionamos mais uma vez no futebol, em uma prova de que não há relação direta entre a prática em larga escala e a conquista da medalha de ouro. Mas é fato que teremos de melhorar muito para 2016, porque existe uma responsabilidade como país-sede e precisamos de um desempenho compatível com essa expectativa.

O Plano Brasil Medalha, que prevê investimento extra de 970 milhões de reais nos esportes olímpicos, não chegou muito tarde?
É claro que se nós tivéssemos cuidado disso quatro anos antes poderíamos ter uma perspectiva melhor, mas ainda é possível aprimorar nosso desempenho em relação a Londres. Há um atraso histórico do esporte no Brasil que não pode ser revertido em quatro anos. Ainda existem mais de 10 000 escolas que nem água ou luz têm, então não é possível imaginar ter equipamentos esportivos decentes.

No último ciclo olímpico, o governo gastou 2 bilhões de reais. O resultado foram apenas dezessete medalhas. Não é necessário melhorar o critério de investimento em atletas para obter resultados superiores?
O critério tem de ser o da meritocracia. Os atletas contemplados com apoio estatal tinham um desempenho compatível com o investimento nas competições preparatórias, antes de a Olimpíada começar. Mas nem todos conseguiram fazer o sucesso esperado em Londres. O nosso critério continuará sendo o do mérito. Quem teve bom desempenho receberá mais recursos públicos do que aqueles que decepcionaram.

Os dirigentes têm culpa desse fraco desempenho?
Há necessidade de mudanças urgentes na estrutura das confederações. Democratização e profissionalismo são as palavras-chave. É preciso limitar o tempo de mandato dos dirigentes a três ou quatro anos, com direito a apenas uma reeleição. Esse modelo força o dirigente a perseguir bons resultados, porque, não dispondo da entidade a vida inteira, ele tem de ser vencedor em um prazo curto. Sem bons resultados, a eleição seguinte fica em risco.

De que instrumentos o governo dispõe para garantir que os dirigentes não se perpetuem no poder?
O governo quer condicionar os benefícios públicos para as confederações ao cumprimento de critérios de transparência, modernização e democracia. Vamos criar um índice nacional que valorizará as entidades que modernizarem sua gestão. Estas serão beneficiadas por patrocínio de estatais, isenções fiscais e transferência direta de recursos. As que não cumprirem as metas não terão o apoio do governo.

Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF, mas foi contratado como consultor da Copa. José Maria Marin, que sucedeu a ele, acumula salários como presidente da CBF e do comitê organizador da Copa. A gestão do futebol pós-Teixeira avançou?
A CBF sempre resistiu a receber dinheiro público porque isso levaria a uma fiscalização dos órgãos do estado. Sem dinheiro público, não há como fiscalizar, o que faz da entidade uma caixa-preta. Mas essa situação não tem mais como perdurar. A CBF também precisará adotar uma gestão mais democrática e transparente.

A venda de bebidas será mesmo liberada nos Jogos?
A legislação vai autorizar a venda de cerveja. Não há por que não vender. Não tem sentido fazer um evento desses sem cerveja nos estádios. Diz o Mario Filho, em seu livro O Negro no Futebol Brasileiro, que os ingleses que vieram trabalhar na fábrica de tecidos de Bangu e foram construir o estádio de Moça Bonita começaram a obra pelo bar. A partir do bar fizeram o estádio. É uma relação histórica no esporte, tanto aqui como no exterior. Você vai à Europa e aos Estados Unidos e há um consumo controlado - a polícia britânica prendia quem estava bêbado e incomodando. Então o Brasil tomou uma decisão equilibrada.

O Tribunal de Contas da União aponta uma série de suspeitas sobre as obras da Copa. O que é possível fazer para que Copa e Olimpíada não se tornem um festival de desvio de dinheiro público?
Onde há recursos da União o controle é rigoroso, envolvendo ministérios, a Controladoria-Geral da União e os tribunais de contas. Até agora. Cada centavo em recurso público tem sido rigorosamente controlado. Onde houver desvio não haverá mais verbas da União até que o problema seja resolvido. Esse controle não pode ser afrouxado.

Quando se pensa no legado permanente que ficará para o Brasil, terá valido a pena sediar as duas competições?
Todo estudo de consultoria privada, como a Fundação Getulio Vargas e a Ernst & Young, afirma que os dois eventos vão gerar 16 milhões de empregos e o acréscimo ao PIB será de 0,4% ao ano até 2019. Haverá ampliação dos investimentos públicos e, principalmente, dos privados. Ainda temos a estimativa de aumento da arrecadação tributária, a modernização de equipamentos e a revitalização de setores essenciais da economia. A participação do esporte no PIB brasileiro vai crescer. As construtoras brasileiras vão adquirir tecnologia que poderá ser aproveitada no setor público e no privado. A qualidade dos serviços na área de telecomunicações vai melhorar muito. Será também uma oportunidade de o Brasil aprimorar o que já faz com eficiência e superar as deficiências históricas. Esses eventos impõem ao país a superação. Então o Brasil deve olhá-los com otimismo.

O senhor foi o relator do Código Florestal na Câmara, quando desagradou à esquerda ao defender os produtores rurais. A mesma esquerda reclama agora do projeto de privatizações do governo. A ideologia ainda é um obstáculo ao crescimento do Brasil?
Tenho muito orgulho do meu trabalho no Código Florestal. Tudo o que fiz foi pelo interesse do país. Se eu, como deputado e como brasileiro, não defendesse os interesses da pequena, da média e da grande agricultura do meu país, não me sentiria bem. Produzir alimentos é um dever essencial para o interesse público, principalmente dos pobres, que precisam de comida em grande quantidade, acessível e a baixo custo. O Brasil também precisa do campo para equilibrar as contas externas, que têm se mantido no azul graças ao dinamismo da agricultura. O que eu fiz é o que todos os países fizeram. A antiga União Soviética defendeu sua agricultura, a França defende sua agricultura, os Estados Unidos defendem sua agricultura e eu defendi nossa agricultura. Temos de equilibrar a preservação do meio ambiente com a produção agrícola. Foi o que procurei fazer. Nem todos compreenderam. Há gente que só vê um lado da questão. É da mesma natureza a crítica ao pacote de privatização da presidente Dilma. Esses críticos não enxergam que a presidente objetiva arrancar os obstáculos ao crescimento do país.

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